domingo, 12 de abril de 2009

Responsabilidade: essencial às empresas

Especialista explica a importância da gestão responsável nas corporações, ainda mais no momento atual com crise financeira internacional. Leia mais sobre o tema.

Crises, em geral, nos oferecem importantes lições de como se comportar de forma adequada para evitar novos problemas. O atual momento econômico e as dificuldades dele advindas são um bom exemplo dessa verdade. Afinal, é certo que muitas coisas irão mudar em razão da crise pela qual o mundo vem passando.

É essencial, portanto, que aproveitemos as melhores lições e as coloquemos em prática, em especial no mundo empresarial, para que não seja necessário enfrentar turbulências tão drásticas no futuro. As empresas e seus gestores devem adotar e tornar rotineiras as práticas responsáveis de gestão para garantir uma melhor saúde financeira.

A atenção a cinco importantes elementos serve de base para uma administração bem-sucedida: controle; caixa; corporação; processo; e risco. Trata-se aqui daquilo que a empresa não pode abrir mão em todos os momentos, mas em especial durante as crises.

A partir de agora, a governança corporativa deixa de ser uma teoria distante para muitos e passa a existir como prática exigível de todas as empresas que pretendem sobreviver. A concorrência pode deixar de ser uma entidade a ser simplesmente combatida, pois o espaço para as parcerias e a valorização de sinergias, e seus consequentes ganhos produtivos e administrativos, foi ampliado de forma notável em razão da derrocada de diversos mercados.

As parcerias devem passar a ser entendidas também como elementos de base para a consolidação das cadeias produtivas. O diálogo e o entendimento se tornaram indispensáveis entre as empresas e seus funcionários, fornecedores, agentes financeiros e, especialmente, clientes. Empresas que conseguirem desenvolver o melhor entendimento com estas instâncias serão as mais bem-sucedidas de seus mercados.

Vale ressaltar que as oportunidades têm surgido constantemente e devem ser percebidas e aproveitadas no momento em que se apresentarem. Para isso, empresários e gestores precisam manter-se antenados e atentos, buscando se abastecer de informações, estar cercados de colaboradores bem situados e envolver-se com agentes que fazem os mercados se moverem.

Manter as contas empresariais em dia será outro importante desafio. É, portanto, necessário planejar adequadamente e colocar em prática iniciativas que visam a redução constante de custos e a equalização das contas. Além disso, focar esforços na atividade-fim do empreendimento é, mais do que nunca, uma obrigação dos gestores. A qualidade de produtos e serviços também será um valorizado diferencial competitivo.

Eventualmente será interessante às empresas investir em assessoramento adequado, com a busca de especialistas que possam contribuir nas diversas etapas produtivas ou prestativas e na organização ou reorganização empresarial. No entanto, a base de tudo é garantir o planejamento e fazer com que os planos traçados sejam efetivamente colocados em prática, com as adequações que as variações do mercado venham a exigir ao longo dos processos.

Como já indicamos, o mundo corporativo e a economia serão diferentes do que eram após a atual crise. As empresas que estiverem preparadas para encarar essa nova realidade serão as mais aptas ao sucesso. É tempo, portanto, de reforçar princípios e atitudes que serão a garantia de sobrevivência das corporações.

Por Marcelo Gonçalves (sócio-diretor da BDO Trevisan, responsável pelo escritório da firma de auditoria em São José dos Campos - SP)
HSM Online07/04/2009

domingo, 5 de abril de 2009

Governança e sustentabilidade

Nenhuma empresa pode afirmar ter comunicação empresarial efetiva se não permite à sociedade ter acesso às informações relevantes de seu próprio desenvolvimento.


Desde os primórdios da Revolução Industrial, o tema gestão passou a ser obrigatório. Com a formação das primeiras grandes companhias industriais, a discussão sobre as melhores condições de trabalho cresceu.


A Guerra de Secessão dos Estados Unidos (1860-1864) teve um forte impacto nas relações humanas e nas estruturas empresariais agrárias e urbanas: o Norte, industrializado, necessitava de trabalhadores assalariados; o Sul, agrícola, contava com mão-de-obra basicamente escrava. Nessa região, por óbvias razões, não existia o debate sobre o papel econômico e social das fazendas ou ‘empresas rurais’.


Enquanto isso, o Norte já discutia o papel social que as estradas de ferro e as indústrias poderiam desempenhar. Notou-se que os habitantes desses estados estavam mais expostos à educação e ao conhecimento. Podemos afirmar que foram as empresas que contribuíram para o desenvolvimento socioeconômico dessa região, mesmo que neste início poucos promovessem a valorização profissional dos trabalhadores.


A formação dos primeiros sindicatos, por sua vez, deu início ao debate sobre a qualidade de vida no trabalho, ainda que naquela época ninguém soubesse qual a real dimensão de questões como diminuição da jornada, direito à alimentação, benefícios e outros.

Quando os sindicatos se consolidaram, por volta da década de 1960, nos Estados Unidos e na Europa começaram a surgir com muita força as ONGs. Muitas foram criadas para cobrar das empresas boas relações com a comunidade, especialmente no que dizia respeito a questões socioambientais.


Na mesma época, em todo o mundo, começaram a surgir leis específicas, com o objetivo de regulamentar as relações entre empresas e a sociedade. O movimento ficou ainda mais forte nas décadas subseqüentes, quando também foram criadas diversas instituições de defesa dos interesses do consumidor.


Seguindo essa tendência, os investidores que, inicialmente, entregavam seus recursos — interessados unicamente no retorno financeiro e sem a preocupação de como a empresa — atuavam para atingir esse objetivo, começaram a alterar suas posturas.

Tornou-se óbvio para todos que organizações com péssimas relações trabalhistas apresentavam um passivo enorme, menor produtividade e baixa motivação, o que refletia negativamente nos resultados operacionais. Além disso, empresas que poluíam o meio ambiente comprometiam o resultado financeiro da organização, graças às autuações dos órgãos reguladores e à própria atitude dos clientes.


Assim, nasce o conceito de governança corporativa, em que as relações de uma empresa com todos os seus públicos estratégicos são fundamentais para a execução de uma boa gestão. Essas idéias foram compiladas no final do século XX.


Em 1992, o Cadbury Committee desenvolveu o primeiro código de orientação das relações entre acionistas e gestores de empresas: The Cadbury Report. Podemos dizer que esse foi o primeiro código de governança corporativa.


A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) elaborou, em 1997, o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, com ênfase nas relações da empresa com seus stakeholders.

Desde então, o debate sobre Governança Corporativa só cresceu. E no momento da crise atual amplia-se a discussão sobre estas práticas, além de uma forte reflexão relacionada à agilidade de tomada de decisões que este momento necessita.

No Brasil, em 1995, foi fundado o Instituto Brasileiro de Conselho de Administração (IBCA) mudando, dois anos depois, para Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Começava o debate no Brasil sobre governança corporativa – praticamente no mesmo instante que nas nações mais industrializadas.


Em 1999, o IBGC apresenta o primeiro código de melhores práticas de governança corporativa brasileiro, focado unicamente no conselho de administração.

Um grande momento no Brasil foi em 2007 quando a agenda do IBGC foi dedicada a debater a sustentabilidade na visão da governança corporativa e a convergência dos conceitos. O que traz uma reflexão: é possível praticas a governança corporativa sem ser sustentável? Ou ser sustentável sem praticar a governança? Minha reflexão parou na seguinte idéia: não importa se o biscoito vende mais porque é fresquinho ou se é fresquinho porque vende mais. Nessa analogia, o importante é que, ao mesmo tempo, o biscoito seja fresquinho e venda mais. Ou seja, que haja sustentabilidade e governança simultaneamente.


Toda empresa pode ter boas práticas de governança corporativa se adotar procedimentos de transparência, como parte de um sistema estratégico e integrado de comunicação, de forma a facilitar a oferta de informações aos públicos estratégicos. As organizações devem prestar contas de uma forma ágil, eficiente e respeitosa. Ainda, devem não só cumprir à risca toda a estafante legislação nacional, mas também os mais exigentes dispositivos de regulamentação internacionais.


As empresas que desejarem dar um salto de qualidade e cumprir os quatro princípios básicos da governança corporativa – transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa – devem, com a máxima prioridade, implantar modelos de gestão e programas de comunicação empresarial que poderão garantir a efetividade dos esforços.

 

Por Roberto Sousa Gonzalez (professor da Trevisan Escola de Negócios, diretor de estratégia de sustentabilidade da The Media Group membro do Conselho do Fundo Ethical da Santander Asset Management. E-mail: roberto@mediagroup.com.br)
HSM Online
31/03/2009