quinta-feira, 28 de julho de 2011

Do papel para a prática

O que pode ter dado errado quando o planejamento estratégico não sai do papel?

Pesquisas de mercado, definição de missão, valores, objetivos, análise SWOT. Todas as etapas para elaboração do planejamento estratégico da empresa foram seguidas à risca, mas agora, um ano depois, se percebe que as mudanças ali previstas continuam somente no papel. Mas, o que deu errado? Grandes e até mesmo médias empresas já conseguem enxergar a importância do planejamento estratégico como forma de organizar processos, controlar metas e facilitar tomadas de decisão.

Porém, o fato é que, ainda assim, há uma grande dificuldade em se colocar em prática o que de fato foi planejado. A revista Fortune, após uma pesquisa com consultores, publicou que menos de 10% das estratégias são executadas com sucesso nas empresas.

Para o diretor da consultoria FBDE Nexion, Denis Mello, essa dificuldade acontece porque grande parte das empresas não se prepara culturalmente para a execução do PE. “Elas se esquecem da principal fase, a que precede a implantação. É nesse momento que a empresa deve conceituar o planejamento desde a diretoria até as bases, para que todos saibam qual é o papel de cada um nesse processo.”

Promover ações como reuniões e workshops ajuda a integrar as equipes em prol de objetivos comuns do planejamento estratégico. E nessa hora, ter uma comunicação interna competente, que ajude na disseminação das informações, ajuda muito. “Porém, quando ações como estas não ocorrem, cada área passa a tratar o PE como uma lista de tarefas, pois não conseguem compreender sua verdadeira dimensão”, afirma o consultor.

Ainda segundo Mello, outro obstáculo encontrado pelas empresas vem da própria elaboração errada do planejamento estratégico. Comumente, o PE é elaborado como um simples plano de metas, sem levar em conta aspectos mais densos da organização. “Um bom planejamento deve ser um documento objetivo e profundo, que transporte o pensamento da empresa e de seus acionistas. Além disso, ele deve estar permanentemente em cima da mesa de cada um, e ser utilizado como principal ferramenta de trabalho”, conclui.

Segundo aponta o livro de Henry Mintzberg, Ascensão e Queda do Planejamento Estratégico (2008), durante a fase de elaboração do PE, “se os formuladores ficarem mais perto de sua implementação (o que é típico dos empresários), ou se os implementadores tiverem mais influência sobre a formulação, talvez possa haver sucessos maiores na formulação de estratégia.”

Além disso, outro ponto fundamental na hora de tirar o planejamento estratégico do papel é a disciplina com que cada integrante da equipe irá encará-lo. Não adianta ter o documento pronto, se ele não for realmente absorvido no dia a dia da empresa.

Porém, isso não significa que as estratégias devam ser “engessadas”, inflexíveis à mudanças. Como já vimos aqui no portal HSM, em um artigo de Alexandre Freire (http://www.hsm.com.br/editorias/o-que-e-mais-importante-planejar-ou-exec...), “ater-se ao planejado não significa fechar os olhos às mudanças que acontecem no macro-ambiente. Ajustar o plano às alterações políticas, econômicas, tecnológicas e sociais é um pré-requisito para o sucesso da execução.”

Porém, não são fáceis as tarefas de fortalecer a integração entre as equipes, disseminar informações e promover disciplina quando a empresa não possui líderes com conhecimento suficiente para tanto.
Como mostra o livro de Larry Bossidy e Ram Charam, “Execução” (2006), o nível de conhecimento de um líder para saber repassar a visão estratégica da empresa aos seus liderados e colocar o planejamento em prática é essencial e pode até mesmo se tornar um diferencial competitivo da empresa. "Qualquer líder de negócios, em qualquer empresa ou qualquer nível, precisa dominar a disciplina da execução. Se você colocá-la em prática em sua empresa, saberá que está produzindo melhores resultados."

A preocupação em se colocar a gestão de pessoas até mesmo na frente da gestão financeira é algo que vem tomando forma aos poucos nas empresas nacionais, segundo o professor do PROCED (Programa de

Capacitação de Empresas em Desenvolvimento da FIA), Antonio Paulo Lage Terassovich. “O maior erro que uma empresa pode cometer, por exemplo, é dar aumento para um funcionário que está insatisfeito no trabalho. É como dar água do mar para quem está com sede. Na verdade, é preciso aprender a lidar com o lado humano daquele trabalhador”, afirma.

O professor ainda lista quais são os três itens fundamentais, segundo ele, para que a execução de um planejamento estratégico aconteça com sucesso:

Pessoas: “um dos passos é entender a cultura da empresa e estabelecer a equipe necessária para a implementação. Por exemplo, uma empresa de marketing, mais dinâmica, requer profissionais com perfil diferente daqueles profissionais que trabalham em uma indústria de cimento, com processos de trabalho mais calmos.”

Processo: “para sair do estágio em que está para o estágio futuro, toda estratégia deve ter metas e estas metas necessitam de prazos e de um responsável pela sua execução.”

Tecnologia: “é preciso investir em recursos tecnológicos que atendam a demanda de diferentes áreas da empresa, como tecnologias de gestão financeira, de pessoas e de marketing. Assim, todas as equipes poderão andar no ritmo exigido pelo planejamento.”

terça-feira, 26 de julho de 2011

O motor que nos faz inovar

Jairo Siqueira, criador do conceito de Criatividade Aplicada, dá dicas para não deixar a criatividade morrer na correria do dia a dia.

“Não há sobrevivência sem criatividade e nenhuma organização está a salvo desta realidade.” A afirmação é do engenheiro Jairo Siqueira, que desenvolveu o conceito de Criatividade Aplicada, um conjunto de técnicas e habilidades para desenvolver criatividade, inovação e solução de problemas.

Numa pesquisa de clima organizacional conduzida por Siqueira, foi constatado que profissionais mais seguros para apresentar ideias e trocar informações com colegas e superiores, trabalham em empresas que adotam posturas ligadas à inovação e que dão espaço para explorar oportunidades e assumir riscos.

Na entrevista abaixo, Jairo fala sobre como profissionais e empresas podem lidar com esse elemento tão importante para a inovação.
Portal HSM - Até que ponto a criatividade está ligada ao sucesso de uma empresa?
Jairo Siqueira - Vivemos num mercado em que não há mais o sucesso duradouro, o ciclo de vida dos produtos se tornou muito curto. A luta pela sobrevivência e liderança não tem trégua, exigindo a inovação permanente de produtos e processos. Até pouco tempo, a posição do Google parecia absoluta e agora tem usado toda a criatividade de sua equipe para enfrentar o Facebook. O mesmo acontece com o fabricante do Blackberry, que já anuncia grandes inovações na sua linha de smartphones face ao avanço dos concorrentes. Quaisquer que sejam os vencedores desta batalha, as empresas líderes terão em breve de enfrentar novos concorrentes, que poderão surgir de onde menos se espera. Não há sobrevivência sem criatividade e nenhuma organização está a salvo desta realidade.
HSM - Como estimular a criatividade nas empresas? Enumere algumas dicas de atitudes tanto para a empresa quanto para o profissional.
Jairo Siqueira - Sem a intenção de esgotar a lista de boas dicas, podemos considerar as seguintes atitudes para estimular a criatividade:
1. pense sempre de modo positivo sobre suas habilidades criativas;
2. valorize a imaginação e a intuição, tanto quanto a razão e o conhecimento;
3. habitue-se a separar os momentos de criação de ideias dos momentos de avaliação e julgamento;
4. desafie os preconceitos, normas e verdades absolutas – as suas, de outras pessoas e da sociedade;
5. crie e explore alternativas – abandone a crença de que há uma única resposta certa.
6. tenha mais perguntas do que respostas – o que cria novidades não são as respostas prontas, mas as perguntas que questionam o saber dominante;
7. aprenda e use as ferramentas de criatividade como o Brainstorming, SCAMPER, Mapa Mental para ajudá-lo a desenvolver suas habilidades criativas;
8. tenha sempre em mente que a inovação implica em assumir riscos e em saber lidar objetivamente com eventuais erros e falhas. Aprenda a distinguir as falhas resultantes de tentativas honestas dos erros resultantes de negligência ou temeridade.

HSM - É possível criar um ambiente e uma cultura de criatividade ou é uma característica nata de cada pessoa?
Jairo Siqueira - Acredito que todos nascemos criativos, certamente com diferentes níveis de criatividade. Ao longo de nossa vida, esta criatividade nata vai sendo inibida por pressões da escola, da família, das empresas e da sociedade. Somos permanentemente instados a dançar conforme a música, andar nos trilhos, não fazer marolas e não questionar rotinas e hábitos.
No entanto, esta criatividade perdida pode ser recuperada e cultivada. A condição essencial é um trabalho que nos permita usar os nossos talentos e fazer o que gostamos; não há criatividade sem a paixão pelo trabalho. Outra condição importante é ter um ambiente de trabalho em que nos sintamos seguros em expor nossas ideias, sem medo de sermos ridicularizados ou prejudicados; respeito e lealdade são indispensáveis.

HSM - O que é mais importante quando se fala de criatividade e inovação? Como usá-la para inovar?
Jairo Siqueira - O mais importante continua sendo a voz do mercado, ou seja, o que os consumidores pensam e desejam. As necessidades, expectativas e percepções dos clientes devem ser continuamente monitoradas, interpretadas e levadas ao conhecimento de toda a organização. Este conhecimento deve ser usado para manter a organização permanentemente alerta sobre as ameaças dos concorrentes e sobre as oportunidades de inovação.

HSM - O clima organizacional influencia na criatividade?
Jairo Siqueira - O clima organizacional representa o conjunto de atitudes, sentimentos e comportamentos que caracterizam a vida na organização e influenciam as relações entre as pessoas. O clima organizacional exerce uma forte influência sobre a criatividade. Esta influência pode ser negativa ou positiva, na extensão em que o ambiente de trabalho estimula e favorece, ou não, as iniciativas de geração, debate, intercâmbio e experimentação de ideias.
Em recente pesquisa que realizamos sobre clima organizacional e criatividade, as percepções dos participantes revelam que as organizações com postura inovadora, ou que pelo menos estão dispostas a explorar novas oportunidades e a assumir alguns riscos, apresentam um clima organizacional em que as pessoas são incentivadas a explorar novos caminhos e se sentem à vontade e seguras para apresentar suas ideias e trocar informações com seus superiores e colegas. Além disso, estas organizações fornecem os meios para possibilitar a criação, debate e operacionalização de novas ideias.

HSM - Como um profissional pode abrir caminho para a criatividade em uma empresa que não dá essa abertura?
Jairo Siqueira - Esta é uma situação delicada, pois a criatividade nunca é um ato isolado. A criatividade requer troca de informações, intercâmbio de ideias, cooperação, respeito e lealdade. Tentar inovação numa empresa que não dá esta abertura pode ser arriscado. Não me sinto à vontade para propor atos de heroísmo. Como regra geral, os heróis solitários são imolados no altar do comodismo e dos interesses contrariados.

No entanto, não devemos deixar de cuidar do aprimoramento de nossas habilidades criativas. Mesmo nas organizações mais conservadoras, há sempre alguma margem para exercitar nossa criatividade e oferecer contribuições para a inovação e melhoria de processos, métodos e produtos.

HSM Portal

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Startups verdes

Mercado se abre para novas empresas que se emcaixam no conceito eco-friendly.

A tendência de empresas que adotam a sustentabilidade como parte estratégica em seus negócios está cada vez mais evidente no surgimentos de startups “verdes”. Elas trazem o conceito de eco friendly desde sua criação e muitas vezes elas existem por causa dessa preocupação com o tema.

Os empreendedores desse tipo de empresa têm algumas características em comum: eles avaliam riscos e oportunidades olhando para a sociedade. “Em geral, eles querem mitigar questões negativas na sociedade ou enxergam nesses problemas novas oportunidades de negócio”, afirma o consultor João Paulo Altenfelder, da SEI Consultoria. A figura desse empreendedor é fundamental para o desenvolvimento desse mercado.

Essas empresas também têm em comum um modelo diferenciado de negócio. Em geral elas têm governança descentralizada, mais colaborativa e mais participativa. A relação com os stakeholders também é mais participativa e as empresas sabem aproveitar bem este aspecto. Elas trocam mais, pedem opinião e são mais transparentes, o que colaborada para a inovação vir, muitas vezes, dos próprios stakeholders.

Uma empresa com este perfil deve ter foco em questões ligadas à sociedade como:

1 - água
2 - energia
3 - esgoto
4 - resíduos
5 - formação de mão de obra.

Outra palavra que obrigatoriamente está ligada à essas startups é a inovação. É inovando que elas nascem e conseguem se projetar. Se, dentro do conceito de sustentabilidade, precisamos achar novas soluções para a sociedade, é exatamente aí que surgem as oportunidades. E a inovação deve estar presente desde o começo, conforme publicado no blog da HSM ‘Startups: segredo é inovação desde o início’.

Mercado amplo

As startups verdes surgem em todos os setores do mercado e não somente em segmentos ligados ao meio ambiente. Os serviços ambientais formam um nicho muito promissor, onde podem ser exploradas soluções para aproveitamentos de resíduos, energias renováveis ou melhor aproveitamento da água. Mas o conceito de eco friendly vai além: empresas de segmentos tradicionais como têxtil ou turismo estão adotando esses conceitos. E existem ainda as empresas sociais, que muitas vezes surgem como ONGs e se transformam.

“Daqui para frente, muitos negócios vão deixar de existir e muitos outros vão surgir. Nossa sociedade consome cada vez mais energia e precisa cada vez mais de soluções para alimentação, por exemplo”, defende Altenfelder, da SEI Consultoria.

Onde estão?

Um suco bem fresquinho, feito sem conservantes e colocado em caixinhas: esse foi o sonho que se tornou realidade na empresa de sucos do bem. A empresa existe desde 2009 e tem em sua filosofia fazer as melhores bebidas naturais do mundo. Também buscam uma relação mais direta com os consumidores, a ciência a serviço do natural e mais respeito à natureza e ao ser humano.

Num segmento totalmente diverso está a WeatherBill, fundada pelos ex-funcionários do Google, David Friedberg e Siraj Khaliq. A empresa americana desenvolve formas de proteger fazendeiros contra perdas causadas pelo clima. O Weather Insurance utiliza uma plataforma tecnológica que paga seus clientes automaticamente com base nas condições climáticas. O software monitora as condições climáticas em tempo real.

No setor têxtil, a Ecotece se aproxima mais do modelo de empresa social. Ela nasceu como Instituto do Vestir Consciente e atua em três frentes: uma agência de criação e conhecimento, projetos sociais e desenvolvimento de produtos ecológicos que geram renda. Na maneira de pensar dos criadores da empresa, as roupas são bens de consumo indispensáveis que podem gerar ativos ambientais e sociais.

Em setores como o de combustíveis o mercado é tão promissor que existem investidores especializados. A Khosla Ventures, da Califórnia, por exemplo, procura empresas e startups de tecnologia, entre outras, que reduzam as emissões de CO².

Setores diversos, mas com muito em comum. De acordo com João Paulo Altenfelder, “o mais importante é que esses empreendedores enxergaram que a insustentabilidade pode virar uma oportunidade”.

Leia mais:

Inovação da gestão para um mundo sustentável

Pense de maneira inovadora e faça acontecer
 
HSM Management

terça-feira, 12 de julho de 2011

Falta pessoal e estrutura para inovação brasileira

País atrai investimentos em função do mercado, mas não tem ainda uma boa estrutura para pesquisa científica e desenvolvimento de tecnologia.

Dados apresentados no livro “Inovações tecnológicas no Brasil” (Ed. Cultura Acadêmica, 2011), da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa) mostram que o número de doutores no Brasil é baixo e isso gera impacto para o crescimento de pesquisa e inovação dentro das empresas.

Por outro lado, segundo levantamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o número de mestres e doutores titulados no Brasil dobrou no período de 2001 a 2010. A quantidade de pesquisadores formados por ano no País passou de 26 mil para 53 mil. De acordo com o órgão, só em 2010, 12 mil receberam o título de doutor e 41 mil o de mestre.

E há ainda a percepção de alguns especialistas de que muitos desses mestres e doutores não conseguem se inserir nas empresas por falta de sintonia com temas que realmente tem relevância.

“Há escassez de doutores preparados para atividades em empresas e há um desemprego de doutores cujo principal critério de avaliação de progresso é a publicação de "papers" em periódicos de alto impacto. Infelizmente, estamos confundindo qualidade com os indicadores de popularidade de temas. As revistas de engenharia de materiais têm fatores de impacto menores que as de ciência dos materiais. Os jovens pesquisadores sabem disso e concentram-se em temas que lhes dêem acesso às revistas de alto impacto - mas que não preparam o seu caminho para o trabalho de pesquisa & desenvolvimento & inovação. Isso acaba esterilizando muitos talentos”, alerta o professor Fernando Galembeck, da Unicamp, autor de um dos artigos do livro.

As empresas têm, muitas vezes, mais agilidade que os governos para fomentar a pesquisa. Quando uma empresa procura e emprega pessoal qualificado, ela dá o sinal mais forte e mais positivo possível para motivar estudantes a qualificarem-se. “Tenho testemunhado e participado de um trabalho bastante intenso de empresas, em busca da qualificação de seu pessoal. "O programa da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química) chamado Pacto Nacional da Indústria Química é notável por ser um programa de longo prazo, até 2020, e por trabalhar com projeções muito completas. É o tipo de programa que poderia se esperar do governo, mas que não existe. Além disso, os impostos no Brasil são pesados, para quase todos.”, afirma Galembeck.

Fábio Gandour, cientista-chefe da IBM do Brasil, afirma também que o Brasil se beneficia pouco das inovações que faz e que o empresário brasileiro é por si só inovador, mas peca na hora de mensurar e registrar projetos. “Falta às empresas brasileiras enxergar a ciência como negócio, dirigindo suas práticas operacionais única e exclusivamente para o retorno do que se está investindo”, diz Gandour, que participou recentemente do Fórum HSM de Inovação e Crescimento 2011.
Para o professor Galembeck da Unicamp, a falta de conhecimento e de compreensão do mundo extra-escolar e extra-universitário é a maior dificuldade para pesquisadores se inserirem no setor privado. “Um ponto que para mim é crucial: estudantes e recém-formados brasileiros, com grande frequência, nunca leram um documento de patente. Leram papers, livros, notas de aula, mas não leram boletins técnicos de empresas. Desconhecem noções simples de gestão e valores de mercado. Por essa razão, uma boa parte dos pesquisadores acadêmicos que pensam em interagir com empresas tem enormes dificuldades de diálogo,” completa.

Investimentos voltados para o mercado

Autor de outro artigo na mesma publicação, o professor Sérgio Queiroz, também da Unicamp, defende que os investimentos de multinacionais seguem por duas vias principais: aqueles atraídos pelas oportunidades de mercado e aqueles atraídos pela tecnologia. No caso do Brasil ainda estamos mais situados na primeira opção. As multinacionais investem no Brasil por haver oportunidades de mercado. Queiroz cita como exemplo a indústria automobilística, que tem um mercado amplo aqui e precisa investir em pesquisa para adaptar seus carros às condições e legislação do país.

Existem fatores decisivos para atrair esses investimentos e o principal é a mão de obra qualificada. Outros fatores são centros de pesquisa, fomento nas universidades e programas sólidos de aquisição de conhecimento. Essa estrutura o Brasil não tem. “A China e a Índia estão à frente nessa questão por possuírem uma estrutura melhor de pesquisa e pessoal qualificado. No caso da China, houve um grande avanço em um curto espaço de tempo. O país está criando grandes parques científicos e universidades avançadas, pois percebeu que isso atrairia mais investimentos”, relata.

Queiroz acredita que nos próximos dez anos o Brasil ainda terá mais investimentos em função do mercado, mas há aí uma possibilidade de reforçar a interação com centros de pesquisa e, mais adiante, melhorar os investimentos no potencial de pesquisa.

A conclusão é que, embora o número de doutores e de trabalhos científicos esteja aumentando no país, ainda há um longo caminho para estruturar o setor de P&D e proporcionar tanto maiores investimentos como melhores oportunidades para os profissionais que se interessam pela área de pesquisa.

Portal HSM

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Como chegar à mente do consumidor

Especialistas explicam como funciona a neurociência ligada ao marketing: emoções dominam lado racional na hora de decidir por um produto; outros profissionais consideram o neuromarketing algo fora da realidade.

Se no passado, a prioridade era realizar as tradicionais pesquisas para diagnosticar as preferências do consumidor, hoje, com os avanços tecnológicos e atenção maior às emoções, a tendência, para muitos especialistas, é outra.

Em breve, haverá muito mais empresas alocando laboratórios de neuromarketing, como já fazem algumas multinacionais de bens de consumo e tecnologia, para entender o funcionamento da mente. Este entendimento vai desde as primeiras percepções até a tomada de decisão por determinado bem ou serviço. Por outro lado, há ainda profissionais que veem a ‘neurociência ligada ao marketing’ mais como ficção científica do que realidade.

No livro ‘Por Dentro da Mente do Consumidor’, o autor Philip Graves desvaloriza a importância das pesquisas, caracterizadas por ele como ‘falsa ciência’. Primeiro, porque muitas pessoas, segundo o especialista, não fazem o que respondem nos questionários. Depois, porque os dados refletem o retrato de um momento, ou seja, de um determinado grupo conforme as perguntas abordadas.

“Muito tem se falado e comentado a respeito desta nova ciência, o neuromarketing. Não diria que as pesquisas convencionais devem ser criticadas ou deixadas de lado, porém concordo que entender o consumidor é hoje um desafio e necessidade para qualquer empresa que queira sobreviver no mercado. Perguntar ao consumidor o que ele deseja pode ser perigoso, mas as pesquisas servem para indicar caminhos e minimizar erros. Acredito que as novas metodologias e técnicas utilizadas agregam muito”, diz o publicitário Richard Vinic, coordenador dos cursos de pós-graduação de Administração de Marketing, Gestão em Marketing de Serviços e Gestão em Vendas e Negociação da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado).

Segundo o professor, é importante não descartar modelos de pesquisa, cujo segredo é a interpretação dos dados coletados. “Não serei taxativo a ponto de afirmar (desqualificando) a importância das pesquisas convencionais”, diz. “Me identifico muito com os conceitos de neuromarketing. Entendo que seja uma realidade e não apenas uma moda. Cada vez mais teremos que ser multidisciplinares para fazer corretas leituras sobre o comportamento do consumidor: psicologia, antropologia e neurociência. Todas estas áreas do conhecimento darão uma importante contribuição”, complementa.

Estudos publicados pelo autor Martin Lindstrom, em ‘A Lógica do Consumo’, indicam que mais de 80% das compras são emocionais. Perguntar ao cliente o que ele quer retrata o momento e nem sempre a resposta efetivamente resulta em comportamento. “Acredito que, em breve, teremos mais empresas utilizando estas técnicas, inclusive com a alocação de laboratórios de neuromarketing. Algumas instituições de ensino e de pesquisa também tendem a adotar estas práticas”, afirma Richard.

Duas mentes

O consumidor lida o tempo todo com suas mentes para fazer escolhas, para tomar decisões ou construir significados: uma que pensa (lógica) e outra que sente (emocional). “E entre a decisão racional e a emocional, a segunda toma sempre a dianteira, pois somos movidos por emoção. As emoções alimentam a mente racional, que assume o papel de refletir e ajustar a frequência das emoções. Em síntese as duas operam de maneira integrada”, explica a especialista em Criatividade e Comportamento nas empresas, Fátima Jinnyat, professora dos programas de Pós-Graduação e MBA da FIA, FAAP e Unifesp.

Para exemplificar, Fátima recorda a história real de Phineas Gage, ferroviário australiano que viveu no século 19, apresentada no livro ‘O Erro de Descartes’, do neurocientista Antonio Damásio. Em 1848, tentando colocar explosivos com uma barra de ferro, processo que usava rotineiramente, algo deu errado e uma explosão fez com que a barra de ferro atravessasse a cabeça dele, ocasionando a perda de um dos olhos.

Surpreendentemente, Phineas sobreviveu e, a não ser pela deficiência visual, estava aparentemente normal e lúcido. Mas a personalidade do australiano foi mudando e se era conhecido como um homem trabalhador, educado e responsável, passou a destratar as pessoas e não avaliar as consequências de seus atos. Foi afastado do trabalho e morreu pobre uma década depois.

“Seu caso foi estudado pelos médicos, que notaram que uma área do seu cérebro ligada ao processamento das emoções havia sido comprometida. Este estudo foi considerado um marco para o entendimento da influência das emoções sobre a tomada de decisão, pois na falta delas a racionalidade fica à deriva. Associando este conhecimento à experiência do consumo, escolhemos marcas ou produtos que, de alguma maneira, acionam nossas melhores memórias emocionais”, explica.

O avanço dos últimos anos no estudo da neurociência permitiu comprovar, entre outras questões, que a maior parte das atitudes do consumidor tem origem na mente inconsciente. Nela, que possui capacidade ilimitada de armazenamento, também está a memória de longo prazo.

Mas é fato que os consumidores justificam suas escolhas de modo racional. “Comprei esta marca de leite porque estava na promoção, este sabão em pó que lava melhor que os outros, reservei a pousada com diária mais em conta, mas, na verdade, nem eles têm acesso aos reais motivos que os direcionam para esta ou aquela escolha. A verdadeira motivação está guardada na mente inconsciente e somente se revela quando estimulada”, explica Fátima.

O advento da tecnologia ajudou a entender este processo, pois hoje é possível mapear o cérebro no momento exato em que um produto é escolhido, identificando a área cerebral onde ocorreu o estímulo. A leitura destas informações permite compreender a motivação real, muitas vezes irracional. De acordo com a especialista, há alguns tipos de aparelhos que rastreiam o cérebro, como os de Imagem por Ressonância Magnética, permitindo, por exempo, dizer onde acontece atividade cerebral quando assistimos a um filme publicitário, degustamos um produto, fazemos um test drive, degustamos um vinho, entre outras situações.

“Vários exemplos de empresas que se valem do neuromarketing são citados no livro ‘A Lógica do Consumo’. Um deles é a DaimlerChrysler, que usou a ressonância magnética na mente de alguns consumidores mostrando modelos de Mini Coopers. Os especialistas perceberam que as pessoas, ao observarem a imagem do automóvel, tinham ativada uma pequena região na área posterior do cérebro que reage a feições faciais.

A leitura feita a partir desta constatação revelou que, mais do que os atributos técnicos do modelo, o que cativou aquele público foi a associação com um rosto adorável de uma criança. Na descrição destes consumidores, o Mini Cooper era relacionado a ‘um Bambi sobre quatro rodas ou um Pikachu com cano de descarga’. E parece que tinham razão. Faça um teste, procure uma imagem do Mini Cooper, de preferência vermelho e busque o carro do Pato Donald. Em seguida, reflita sobre as boas lembranças possíveis de serem associadas ao modelo”, recomenda Fátima.

A neurociência, segundo ela, será de grande valia, não para acelerar ou intensificar o consumo, mas para que as empresas criem produtos mais adequados, entendendo o que acontece na mente do consumidor. “É importante registrar a existência de uma preocupação ética sobre a utilização das descobertas da neurociência, considerando que já existem até armas de destruição em massa originadas por esta ciência.”


O consumidor é o homem contemporâneo, influenciado pelos desafios desta época de mutação, convivendo com os avanços e os retrocessos, muitas vezes sem estar consciente deles. As pessoas, de acordo com a professora, criam seus significados para os valores das marcas, pois misturam as mensagens com suas próprias emoções. “Mais importante para os consumidores são os benefícios emocionais: valores, caráter, personalidade. Eles esperam que a marca ou produto contribua para a evolução de sua identidade.”

Ficção x realidade


Para o publicitário e jornalista João José Werzbitzki, consultor de comunicação de marketing, master of arts/communications e responsável pelo Blog do JJ, de Curitiba, é necessário fazer uma outra análise.

“Penso que o neuromarketing ainda é muito mais ficção científica do que realidade. Me parece impossível enquadrar todas as pessoas de acordo com os pensamentos de cada uma, mesmo que se analisem as reações cerebrais a cada tipo de comando. Quem estuda o comportamento do consumidor e a opinião pública sabe que não existem duas pessoas no mundo que pensem igual, que tenham a mesma opinião ou percepção sobre todos os assuntos. E que não existe opinião imutável. Assim como sabe que as opiniões são formadas tanto pelo que uma pessoa sabe, como pelo que ela não sabe”, afirma JJ.

“Na medida em que novas informações e experiências são acrescentadas ao cérebro ele as processa e muda ou não de opinião. Este é o nosso trabalho, com a publicidade, por exemplo: conservar pensamentos, opiniões e percepções favoráveis, neutralizar as desfavoráveis e conquistar as latentes ou não formadas. Assim, como nenhuma comunicação serve para todo mundo, me parece óbvio que nenhum perfil de comportamento neurológico serve. Mas tem rendido este assunto”, completa JJ.

Portal HSM

terça-feira, 5 de julho de 2011

A empresa é interessante para os colaboradores?

Expectativas que vão além da remuneração levam profissionais de diversas gerações a buscarem também um bom plano de carreira e ambiente de trabalho.

Saber apresentar as estratégias da empresa para que os profissionais enxerguem as oportunidades e desafios propostos pode ser tão difícil quanto definir as metas da organização. Por isso, pequenas e médias empresas na hora de realizar a gestão de capital humano podem encontrar dificuldades de reter e contratar talentos.

Isso acontece muitas vezes porque o plano de carreira não apresenta regras claras e metas definidas para cada cargo e projeto, gerando conflitos hierárquicos e desmotivação profissional. Deste modo, mais do que nunca o profissional quer saber quais são suas oportunidades, seus desafios e de que modo ele pode ascender.

Além disso, os interesses nas chamadas geração X e Y são um tanto diferentes. Para explicar melhor, Renato Grinberg, diretor do trabalhando.com e especialista em mercado de trabalho, lembra que a premissa para uma empresa atrair novos talentos e reter os atuais colaboradores é administrar estrategicamente cinco itens: remuneração, benefícios, status da marca, projeção de carreira e ambiente de trabalho.

“Costumo dizer que os primeiros três itens são avaliados com o mesmo peso por diversos perfis profissionais, enquanto que plano de carreira e ambiente de trabalho podem ter prioridades diferentes para as chamadas gerações X e Y”, alerta Grinberg.

Se a empresa visa atrair e reter os melhores profissionais em sua base, projeção de carreira é mesmo a arte de encantar o público interno. Mas para isso, se faz necessário conhecer os interesses individuais de cada equipe para que as metas da empresa estejam alinhadas com todo o grupo. E isso pode ser um trabalho de formiga para gestores de RH.

Estratégia e projeção de carreira

Diferenciação é a palavra norteadora para que a projeção de carreira que está sendo oferecida seja reconhecida. Grinberg explica que um modelo de gestão baseado em projetos e que tem como pilar o reconhecimento com base na meritocracia, pode funcionar muito bem para a geração Y, ao passo que para profissionais da geração X, por exemplo, pode ser mais difícil entender que a empresa está oferecendo a oportunidade, mas que é dele a responsabilidade de assumir sua carreira e correr atrás de resultados.

“O dogma da carreira para profissionais que tem mais tempo de casa ainda é um tabu a ser desmistificado pelas empresas, porque eles precisam perceber que hoje em dia as remunerações são estabelecidas pelo cargo que as pessoas vão ocupar e não pelo tempo de casa e experiência, por exemplo”, alerta Grinberg.

Uma alternativa é deixar claras as regras do jogo. “Independente se a empresa é familiar, o funcionário tem que perceber de forma transparente que as mesmas regras que são impostas para ele, também são cobradas de membros da família. Ou então, que não importa se a empresa contratou um profissional recém-formado no mercado com remuneração equivalente à dele, pois provavelmente outros atributos tais como qualificação, demanda de mercado ou até mesmo inovação, pesaram nesta definição”, explica Grinberg.

Estratégia e ambiente de trabalho

O treinamento também pode fazer parte da estratégia empresarial como uma importante ferramenta de integração. Além de promover o desenvolvimento tanto de novos e antigos colaboradores, investir em desenvolvimento pode ajudar a empresa a reter seus talentos. É preciso entender que mesmo em casos de que a política de desenvolvimento de planos de capacitação sejam elevados, é sempre mais barato para a empresa reter do que perder.

Mais do que nunca, novas gerações precisam estar conectadas com a realidade do mercado corporativo em que atuam para que possíveis frustrações não provoquem a desmotivação de toda uma equipe. “A empresa pode mostrar para estes profissionais a importância de se ter metas realistas, bem como avaliar da melhor forma possível o mercado real e os interesses de colegas e parceiros, que podem sim ditar seu sucesso profissional”, conclui Renato Grinberg.


Portal HSM

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Pense de maneira inovadora e faça acontecer

Para estimular a inovação, transforme funcionários em colaboradores e estes em gestores de seus próprios projetos. 


Rotina corrida, se destacar entre os concorrentes, consolidar informações e organizá-las dentro da empresa, e ainda colocar ideias em prática nem sempre são tarefas tão fáceis e simples de serem desenvolvidas.  Muitas companhias ainda sentem dificuldade de produzir o material atual do seu segmento, pensar nas consequências benéficas para o futuro, além de oferecer ótimo preço, qualidade e ainda aplicar tecnologia ao desenvolvimento e elaboração do produto.


Segundo Anderson Rossi, professor do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral, “nos últimos dez anos, as empresas têm se preocupado cada vez em buscar modificações, o que antigamente era raro. Agora, elas se preocupam em caçar desafios, organizar adequadamente a rotina, propor melhorias aos funcionários, motivá-los e, ainda achar práticas diárias que sejam inovadoras e funcionem”.


De acordo com o especialista, as empresas precisam criar condições para que os colaboradores possam pensar em uma ação em longo prazo, transformando ideias em ações sem precisar de orientações de um superior. O mercado tem que se adequar as novas exigências multiuso, em que uma pessoa saiba todos os processos de criação e conclusão da sua área de atuação.


Modifique os processos para gerar inovação
Para que as empresas brasileiras ganhem maior notoriedade no mercado, como é o caso da China e seus produtos, as organizações devem dar espaço aos intraempreendedores – colaboradores capazes de se adequar as mais diversas situações e mostrar resultados satisfatórios.


“Quando a instituição transforma o colaborador em empregado, automaticamente faz com que não sejam geradas inovações, pois, em sua maioria eles precisam de ordem para funcionar. Por isso, o funcionário precisa se tornar, realmente, parte da empresa e um líder de negócios”, afirma Rossi.
Além disso, para se destacar diante dos demais concorrentes é preciso conhecer e dominar os métodos utilizados pelo concorrente, saber do que ele é capaz e quais as ambições para ganhar o comércio nacional e internacional. Com isso, o adversário pode se tornar fonte de pesquisas e auxiliar – sem saber – em melhorias.


“Para as empresas, um dos passos para obter o sucesso é ficar atenta e verificar qual sua margem de lucro a cada mês, os valores não podem se perder, devem ser monitorados e, se for o caso, cortar gastos supérfluos. Além disso, devem monitorar as tendências do mercado e levantar quais as necessidades e percepção do cliente”, alerta o professor Rossi.


No sentido oposto, transformar funcionários em colaboradores e estes em gestores de seus próprios projetos traz para a companhia mais engajamento e comprometimento de cada um, de modo que todos tenham ideias que são valorizadas e colocadas em prática.


Segundo afirma Alvaro Mello em seu artigo “Estímulos ao processo de inovação, associados ao intraempreendedorismo”, o intraempreendedor é considerado o agente responsável pelas inovações que mudam a situação competitiva das empresas. “Considerando a capacidade empreendedora como um conjunto de competências a serem desenvolvidas, algumas empresas estão desenvolvendo tentativas de estimular o surgimento da atitude empreendedora entre sua equipe de funcionários”, afirma.


Rossi diz que há empresas que são ambidestras – que pensam no hoje e no amanhã com projetos inteligentes – por esse motivo, vivem e perduram com sucesso por muito mais tempo. Elas são seguramente capazes de manter uma boa organização de dados, pesquisas e informações, propor mudanças e colocá-las em prática.


Além disso, em sua maioria, as ambidestras são formadoras de opinião e de novidades, afinal, estão sempre além do mesmo e, principalmente, se mostram abertas para aproximar mais o cliente e satisfazê-lo.


“Manter parcerias com instituições públicas e até mesmo com os próprios clientes ou alguma outra fonte de informação que pode fazer parte de um projeto, opinando com ideias, sempre traz resultados bons e satisfatórios. Não há porque ter medo de inovar e buscar diferentes soluções para a realização de um bom trabalho”, finaliza Rossi.


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