quinta-feira, 16 de junho de 2011

Inovação e Sustentabilidade de mãos dadas

Como as empresas podem sair da teoria para a prática e chegar a um novo patamar de competitividade e comprometimento com práticas sustentáveis?

Muito se fala em inovação como o principal caminho para o desenvolvimento sustentável das organizações e da humanidade. Porém em muitos setores falar sobre esse assunto é ainda um exercício teórico. Em geral, o tema é associado as áreas de tecnologia ou pesquisa e desenvolvimento, mas a inovação deve acontecer também na liderança, nas ações de marketing, no modelo de negócios, ou seja, na gestão como um todo.

Em pesquisa realizada pela Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), em maio de 2011, representantes de 63 empresas mostraram que 97% consideram fundamental que as organizações inovem para buscar a sustentabilidade, tanto do negócio quanto da economia e do planeta. Apesar dessa consciência, 70% dos participantes do estudo acreditam que as empresas estão preocupadas, mas não direcionam seus investimentos em inovações com foco no crescimento sustentável. O levantamento mostra ainda que 27% dos entrevistados apontaram a gestão como a principal preocupação das empresas em que trabalham, enquanto 22% indicaram a sustentabilidade e 19% a redução de custos.

De acordo com o superintendente geral da FNQ, Jairo Martins, “os resultados da pesquisa mostram que as empresas ainda não perceberam o tamanho do problema da sustentabilidade, considerando o baixo índice de organizações que, de fato, investem em inovação para sustentabilidade. Em sua maioria, as organizações pensam apenas no lado econômico e não no tripé da sustentabilidade, que demanda uma empresa economicamente sólida, socialmente correta e ambientalmente responsável. Enquanto dominar o pensamento pelo viés econômico, cujo sucesso é medido pelo PIB, o atual modelo de desenvolvimento insustentável não vai mudar e não serão incluídas na pauta das organizações as questões socioambientais.”

O professor da Fundação Getúlio Vargas, Renato Orsato, autor do livro “Estratégias de Sustentabilidade: quando vale a pena ser verde?”, analisou mais de 30 casos de empresas que adotaram a inovação em 20 setores ao redor do mundo. Para ele, deve haver uma premissa básica para falar sobre esse assunto: fazer perguntas precisas. “Isso porque existem centenas de milhares de formas de incluir inovação e sustentabilidade nas empresas. As empresas devem conhecer bem o contexto onde atuam e considerar tanto aspectos tangíveis como intangíveis”, afirma.

Na opinião do professor, enquanto a sustentabilidade é apenas um acessório à estratégia da empresa, ela não vale a pena. Para inovar, as organizações devem questionar os modelos de negócio e pensar em modelos totalmente novos.

Orsato dá o exemplo da empresa Better Place, que inovou na maneira de comercializar energia renovável para carros elétricos. “O grande salto será conseguir mudanças radicais nos modelos de negócios. As fronteiras entre os setores de energia e mobilidade, por exemplo, podem mudar”.

Da teoria para a prática

“De maneira geral, a inovação faz sucesso em palestras de “especialistas” e de executivos”, explica o professor João Amato Neto, da Fundação Vanzolini e Escola Politécnica da USP. “Mas há empresas realmente inovadoras, seja em seus produtos, em seus processos de produção e até mesmo em seu posicionamento de mercado. Outras são inovadoras na relação com o mercado, num sentido mais amplo. Esse é um grupo restrito no Brasil, de empresas de excelência. As que têm excelência em inovação para sustentabilidade estão num grupo mais restrito ainda. Do ponto de vista da sobrevivência da empresa nos próximos anos esse é um requisito fundamental”.

O professor exemplifica que no varejo há grandes redes como o Wall Mart, Carrefour e Pão de Açucar, que iniciaram ações para contratar fornecedores com base em requisitos de sustentabilidade. Essas ações ainda são restritas a alguns poucos produtos, e incluem, por exemplo, exigências de embalagens que possam ser recicladas. São ações que visam a redução do uso de recursos materiais e energia de uma forma geral (busca de maior eco-eficiência nos processos).

Mas, como sair da teoria e colocar em prática? Veja os principais pontos que uma empresa interessada em inovação e sustentabilidade deve trabalhar:

• Investir no espírito criativo dos colaboradores, não só daqueles que atuam nas áreas de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de produtos ou na engenharia do produto, mas, num sentido mais amplo, ótimas ideias podem surgir no chamado "chão de fábrica".
• Buscar práticas de gestão participativa, isso pode gerar ideias que trazem inovações pequenas, incrementais, mas que, no conjunto, fazem muita diferença.
• Usar a educação para transformar paradigmas e gerar maior conscientização. Não se deve pensar apenas em treinamentos, que são usados, em geral, para tarefas específicas ou aplicação de técnicas. As empresas devem investir na formação dos recursos humanos.
• Questionar o próprio modelo de negócios.
• Inserir sustentabilidade no planejamento estratégico da empresa.

E será que é possível aprender a inovar? De acordo com o professor João Amato, a inovação só faz sentido se isso significar uma mudança de mentalidade na empresa. Isso vale para indústria ou setor de serviços. “No setor financeiro temos muitos exemplos de como os bancos estão descobrindo novas maneira de incluir a sustentabilidade em suas práticas, definindo critérios de práticas socioambientais aos seus clientes. Na realidade alguns dos grandes bancos já colocaram isso no seu plano estratégico”, conclui.

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