segunda-feira, 9 de maio de 2011

Crescer com ética e fé

Especialista traça a evolução dos trabalhadores da época industrial com os dias atuais, citando o forte crescimento da China em comparação com os demais países.

Nos idos da Revolução Industrial, não era fácil ser um trabalhador. As fábricas eram precárias, abafadas, sujas e com péssima iluminação. Os empregados, inclusive as crianças, chegavam a trabalhar 18 horas por dia e até estavam sujeitos a castigos físicos dos patrões.

Os salários mal supriam as necessidades alimentares das famílias e não havia direitos trabalhistas, como férias, auxílio doença, 13º salário ou descanso semanal remunerado.

Em pleno século 21, a China não chega a reproduzir as condições aviltantes da Inglaterra do século 18, mas é certo que sua competitividade em preços deve muito à exploração exacerbada da mão-de-obra.

As jornadas podem chegar a 15 horas diárias, o descanso semanal remunerado é exceção nas empresas e muitas fábricas atrasam os salários durante meses, além de reterem os documentos dos funcionários, evitando assim que eles abandonem o emprego. Não deixa de ser um tipo de escravidão.

Por isso, quando se ouve falar do impressionante crescimento chinês, deve-se questionar: qual é o preço que a sociedade está pagando por esse desempenho econômico?

Claro que tem havido um resgate efetivo de muitas pessoas que estavam abaixo da linha da pobreza. Mas, não podemos achar que tudo corre às mil maravilhas.

Seja no que concerne às condições oferecidas aos trabalhadores, seja no âmbito do Meio Ambiente, a China de hoje e a Inglaterra de ontem em muito se assemelham.

Ambas transformaram florestas em carvão, envenenaram o ar e comprometeram a saúde de seu povo. Trata-se de um modelo de desenvolvimento diametralmente oposto ao que buscamos no Brasil, onde as empresas, cada vez mais, se comprometem com a proteção ao meio ambiente, com a responsabilidade social e com o respeito às comunidades onde estão inseridas. Somos um País cristão e sabemos que o crescimento depende de posturas humanas e fraternas nas relações trabalhistas.

Em vez de aderir a um modelo predatório, e que a longo prazo tende a se revelar insustentável, o empresário brasileiro se esforça para estar enquadrado nas diretrizes que pautam o conceito de sustentabilidade.

Muitas vezes, ele faz isso a duras penas, pois o nosso País tem uma das cargas tributárias mais elevadas do mundo, entraves burocráticos de toda natureza e uma legislação trabalhista que, já não responde às necessidades do mundo moderno.

E, enquanto os chineses devastam seus recursos como se não houvesse amanhã, nós temos uma legislação ambiental que chega a extrapolar o bom senso com suas exigências e restrições.
Ainda assim, salvo raras exceções, o empresariado brasileiro nada fica a dever às boas práticas adotadas no mundo desenvolvido. E ele está cada vez mais atento às muitas implicações que suas decisões podem ter — implicações não somente econômicas, mas também éticas e morais.

Afinal, como disse o papa João Paulo II, a empresa não é apenas de seus sócios, mas, também, de seus trabalhadores e de toda a sociedade para a qual gera matérias-primas, produtos ou serviços. Um patrimônio coletivo.

É importante termos isso em mente quando invejarmos os 10% de crescimento econômico que a China vem alcançando ano após ano. Pois os nossos resultados, embora mais modestos, são consistentes e servem de alicerce para a construção de uma sociedade cada vez mais justa e equilibrada.

João Guilherme Sabino Ometto (Engenheiro (EESC/USP), é vice-presidente do Grupo São Martinho, vice-presidente da FIESP e coordenador do Comitê de Mudanças Climáticas da entidade)

Um comentário:

NinaQuirino disse...

Muito interessante esta matéria,por sua visão de entrelinhas e comparações realizada pelo autor em detrimento do crescimento exorbitante da econõmia chinesa em comparação a EEUU e paises da america latina. é preciso que estado e empresários ,não visem apenas lucros em face de crescimento econõmico. Aque custos a chine desenvolve-se a base de exploração de trabalhadores sem direito.Segundo as estatísticas oficiais, as famílias as mais ricas (8,6%) das cidades monopolizam 60,4% do capital financeiro, ou seja, uma disparidade superior àquela que registrada nos Estados Unidos e na América Latina.

Enquanto o governo não tiver implantado uma política social de redistribuição digna deste nome --o seguro de saúde permanece o privilégio de apenas 76 milhões de empregados urbanos, ou seja, 5,8% da população--, a urbanização acelerada concebida como uma solução para remediar ao mal-estar rural continuará gerando tantos problemas ou mais do que aqueles que ela for solucionando. Oque mais me deixa estupefata é que esta exploração não é merito de paises como a chine,esta só diferencia-se pelo grande lucro. Quantos trabalhadores de nossa nação não passam por a mesma exploração e pior voluntariamente para ter um emprego,á exemplo dos famosos contratos temporários em que o individuo se submetem,sem direito a férias ,13º e com carga horária e salários mais baixos.E pasmem esses contratos são oferecidos pelo proprio estado.
Que os nossos empresários venham a ter uma visão aguçada de suas responssabilidades ,não apenas de crescimentos percentuais,mas com trabalhadores que precisam ter seus direitos preservados