terça-feira, 1 de março de 2011

Conflito de gerações e coaching

Eliana Dutra, diretora executiva da Pro-Fit Coaching e vice-presidente da ICF Brasil, faz uma análise sobre como o coaching pode contribuir para minimizar o impacto do conflito de gerações.

Quando eu era adolescente, estava na moda falar de conflito de gerações. Éramos os Baby Boomers causando estranheza a nossos pais, a Geração S (Silent Generation). Lembro que, na época, ao ouvir toda aquela conversa sobre conflito de gerações pensava que estava tudo muito superestimado. Pensava: “o problema não é uma questão de geração, o problema é que nossos pais estão realmente ultrapassados”. 

O tempo passou e tive uma filha. Ela cresceu, tornou-se uma mulher e comecei a pensar que talvez meus pais não estivessem tão errados. Bem, se você tem mais de 30 anos provavelmente já conhece o resto desta história: hoje, revendo o que diziam para mim quando adolescente, percebo como eles eram sábios e o quanto tinha a aprender com eles.

Lembro também que quando a Geração X entrou na vida corporativa não se percebia grandes conflitos dentro das organizações, pois apesar deles não gostarem de regras, entendiam que as empresas eram um “mundo diferente" e ainda era a época do “manda quem pode obedece quem tem juízo”.

Atualmente, junto com as mídias alternativas do mundo da internet, está nas empresas uma nova geração: os “Y’s”, filhos da Geração X e netos dos Baby Boomers. Eles não têm medo de hierarquia, se sentem especiais e querem ser tratados como tal. São ambiciosos e como frutos da “era da informação” querem aprender cada vez mais, até porque o excesso de informação e sua fragmentação não os confundem.

No Brasil, esta geração chega ao mundo empresarial  numa década de grande crescimento do país. Em quase toda empresa ouço um Baby Boomer dizendo (com orgulho): “Na verdade, eu já estava pensando em me aposentar, mas a empresa pediu para eu ficar um pouco mais” ou “Eu já estava trabalhando em outra coisa, mas eles me chamaram de volta para trabalhar aqui”. 

Indústrias, como a Naval, por exemplo, ressurgiram com força convocando profissionais de experiência para trabalhar e liderar duas gerações muito diferentes. Não há porque se espantar que haja conflitos. 

Imagine juntar na mesma sala o sujeito da geração Baby Boomer, que abriu mão de ser hippie para sustentar a família; o cara da Geração X que pensa: “manda quem pode obedece quem tem juízo” e a garotada Y para quem é natural “falo o que penso, não importa seu cargo”. 

A primeira coisa que se ouve é a reclamação de que eles não respeitam nada. O que isso me lembra? Ah! O que é mesmo que meu avô dizia quando via chegar meu primo de cabelo comprido, sapato sem meia e camisa para fora da calça? Pois é, é a mesma história que se repete.

Mas o que tudo isto tem a ver com coaching? De acordo com a maioria das pesquisas, a questão financeira aparece como um dos três fatores mais importantes que precisam estar presentes na empresa para atrair e reter a Geração Y. Os outros dois são: aprendizagem e desenvolvimento e horário de trabalho flexível. A boa notícia é que o aprendizado e o desenvolvimento são considerados por eles ainda mais importante do que o dinheiro, o que não é de espantar já que nasceram na era da informação. 

Então, como os Y’s não têm o mesmo tipo de respeito pela autoridade das gerações anteriores, como querem ter maior responsabilidade, ter voz ativa e fazer diferença e como, por causa disso tudo, muitas vezes tomam iniciativas sem considerar a hierarquia e a experiência anterior, precisam compreender os limites do que sabem e do que ainda não sabem. 

Além disso, por terem a tendência a trabalhar cooperando uns com os outros é fácil eles perderem o foco do trabalho que precisa ser realizado e fazer só o que têm vontade de fazer. Por isso, os Baby Boomers e a Geração X precisam urgentemente de uma nova ferramenta para lidar e liderar esta turma, e a técnica de coaching é a mais recomendada.  

Aprendendo a prática de coaching, o gestor Baby Boomer, que tem a tendência de ser diretivo, aprende a ouvir as ideias e, assim, a Geração Y se sente especial por poder contribuir produtivamente. Aprende ainda a perguntar de forma estruturada, o que tornará sua vida mais fácil do que ficar lutando para impor suas diretrizes e, simultaneamente, leva tanto a Geração Y como a X  a descobrir não só o limite de seu conhecimento como também novas respostas que tinha dentro de si e nem sabia.  

O gestor da Geração X aprende a ajustar seu estilo de liderança à situação e ao tipo de equipe. Aprende a desenvolver um ambiente de segurança e confiança (o que eles gostam, mas não sabem como fazer). 

 A Geração Y adora e aprende rápido a fazer coaching não só com a sua equipe, mas também em pares e, nenhuma surpresa, com os próprios chefes. Outro dia conversando com uma executiva ela me falou: “foi bom para minha equipe passar pelo treinamento de coaching. Agora, a cada vez que eu levanto um problema minha equipe de Y’s se torna coach e me pergunta: e quais são as alternativas de solução? E o melhor é que estamos realmente encontrando soluções inovadoras”. 


Grandes empresas multinacionais como a IBM e a Nokia ensinam coaching aos gestores há anos. Empresas nacionais como a Golden Cross e a Sulamerica também o fazem. O importante é perceber que há, hoje, quatro gerações convivendo no mercado corporativo e que conflitos entre elas são inevitáveis. Porém, por meio do coaching, os gestores descobrem como minimizar esses efeitos, fortalecendo suas equipes e atingindo excelência. 


Eliana Dutra (Diretora executiva da Pro-Fit Coaching e vice presidente da ICF Brasil)

Um comentário:

NinaQuirino disse...

excelente este artigo.O coaching é um processo contínuo, não uma conversa eventual ou um acontecimento isolado. Podemos até fazer uma comparação do líder coaching com um maestro, que em alguns momentos trabalha com apenas com um integrante, em outros orienta todos à distância e, em outros, corta os vínculos para que possam se desenvolver em áreas completamente fora do seu escopo. Você as leva a aprender e a treinar regularmente, ajuda a canalizar seus desejos pela aprendizagem para as melhores oportunidades e harmonizar a participação delas e dos demais integrantes da organização.

“Educar não é encher um balde, mas acender uma chama” como diz William Butler Yeats