sexta-feira, 15 de abril de 2011

Os 4 princípios do esforço humano

Para Dan Ariely, as empresas estão cada vez mais aderindo à customização e personalização.

“Sempre que entro na IKEA, minha mente transborda de ideias sobre melhorias na casa”. Dan Ariely, autor do livro Positivamente Irracional, define a grande loja internacional de móveis e utensílios domésticos como um castelo de brinquedo para adultos.

Ele acredita que o orgulho pela criação e pela autoria está entranhado no cerne dos seres humanos. “Quando preparamos uma refeição a partir dos ingredientes, ou construímos uma estante, serrando madeira, fazendo furos ou apertando parafusos, sorrimos e dizemos a nós mesmos: “Estou muito orgulhoso do que acabei de fazer!’”.

Ariely acredita que cada vez mais as empresas estão aderindo à customização e personalização. Você pode projetar seus próprios armários de cozinha, montar seu carro, desenhar seus sapatos e muito mais. Mas, a pergunta é: por que assumimos a autoria em alguns casos e em outros não? Quando consideramos justo sentir orgulho de algo em que trabalhamos?

O professor explica e reconhece que a ideia de que investimentos em trabalho geram vínculos afetivos não é nova. Nas últimas décadas, muitos estudos demonstraram que incrementos no esforço podem resultar em aumentos no valor em muitas áreas diferentes.

Por exemplo, quanto mais embaraçosas, dolorosas ou humilhantes forem as exigências para ingressar em determinado grupo social como confrarias, irmandades, associações e outras congêneres, mais seus membros valorizarão o grupo.

Ele citou ainda o exemplo da Local Motors, que possibilita que você projete e então produza fisicamente seu próprio automóvel num período de cerca de quatro dias. “Você pode escolher um desenho básico e, em seguida, personalizar o produto final a seu gosto, considerando aspectos regionais e climáticos. Evidentemente, você não constrói sozinho. Um grupo de especialistas o ajuda na tarefa”.

Para ele, a ideia inteligente por trás da Local Motors é possibilitar que os clientes experimentem o “nascimento” de seu carro desenvolvendo profunda ligação com algo pessoal e precioso.

Efeito IKEA

Por mais conveniente que tudo isso pareça à primeira vista, caso se adote um processo eficiente de produção por encomenda, vão estar se perdendo os benefícios efeito IKEA, ou seja, quando despendemos esforço mental e físico, passamos a amar muito mais nossas criações.

Mas Ariely defende que isso não significa que se deva concluir que as empresas sempre devem exigir que os clientes façam o projeto e participem da fabricação de todos os produtos. “Quando se exige muito esforço do cliente, corre-se o risco de afastá-los; quando se demanda pouco esforço, não se oferecem oportunidades de customização, personalização e envolvimento. Tudo depende da importância da tarefa e do investimento pessoal na categoria do produto”.

À medida que as empresas começam a compreender os verdadeiros benefícios da customização, é possível que passem a fabricar produtos que permitam aos clientes expressar-se, e em última instância, que lhes proporcionem mais valor e alegria.

Ariely chama a atenção frente à luz dessas descobertas. “Talvez seja conveniente rever nossas ideias sobre esforço e relaxamento. O modelo econômico simples sobre trabalho afirma que somos como ratos num labirinto. Qualquer esforço que dediquemos a algo nos afasta de nossa zona de conforto, gerando incômodo, frustração e estresse indesejáveis. Se aceitarmos este modelo, concluiremos que nossos caminhos para maximizar a alegria de viver devem se concentrar na tentativa de evitar o trabalho e aumentar nosso relaxamento no presente”.

Diligência, persistência e conquista

Ele explica que provavelmente esta é a razão por que tanta gente acha que as férias ideais é deitar-se preguiçosamente numa praia exótica, desfrutando do som das ondas e dos pássaros saboreando comes e bebes.

Desse mesmo modo, mesmo na IKEA, preferimos móveis já montados, mais caros e mais desajeitados para o transporte, do que caixas com peças e partes dos mesmos móveis, alternativa mais barata e de transporte mais fácil, para montagem em casa. Infelizmente, ao poupar esforços nessas atividades, talvez fiquemos mais relaxados, mas decerto nos privamos de um sentimento profundo de satisfação e realização, pois na verdade, a diligência, a persistência e a conquista são os principais indutores do sentimento duradouro de bem-estar consigo próprio.

Os experimentos das diversas pesquisas que Dan Ariely realizou junto com outros professores demonstraram quatro princípios do esforço humano:

1 - O esforço que dedicamos a algo que influencia não só o objeto em si. Também muda a maneira como avaliamos o objeto.
2 - Mais trabalho resulta em mais amor.
3 - A supervalorização do que fazemos é tão profunda que chegamos a imaginar que outras pessoas encaram nossas obras sob a mesma perspectiva tendenciosa.
4 - Quando não conseguimos completar algo a que nos dedicamos muito, não nos sentimos tão ligados ao objeto.

Em resumo, esses experimentos sugerem que, quando produzimos algo, passamos a ver a nossa obra com olhos de amor. É como diz um velho ditado árabe: “Aos olhos da mãe, até macaco é antílope”, conclui.

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